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Foto do escritorProf. João Victor Laureano

Antidepressivos e Ganho de Peso: O Que diz a Ciência.

Antidepressivos e Ganho de Peso

Os antidepressivos são amplamente utilizados no tratamento de diversos transtornos mentais, mas um dos efeitos colaterais mais discutidos é o impacto desses medicamentos no peso dos pacientes. Recentemente, um estudo abrangente publicado na Annals of Internal Medicine trouxe novas luzes sobre como diferentes antidepressivos de primeira linha influenciam o ganho de peso. Vamos explorar esses achados e refletir sobre como eles podem influenciar a prática clínica.



O Estudo


Conduzido pelo Harvard Pilgrim Health Care Institute, o estudo analisou dados de prontuários eletrônicos de 183.118 pacientes nos EUA, que começaram o uso de antidepressivos entre 2010 e 2019. Os pesquisadores focaram em oito antidepressivos comuns: sertralina, citalopram, escitalopram, fluoxetina, paroxetina, bupropiona, duloxetina e venlafaxina.


Resultados


Os resultados mostraram pequenas, mas significativas, diferenças no ganho de peso após seis meses de uso desses medicamentos. A Tabela 1 resume as mudanças médias de peso observadas:


Tabela 1 - Resume as mudanças médias de peso observadas com a utilização de diversos antidepressivos

Antidepressivo

Diferença Média de Peso em 6 Meses (kg)

IC de 95% (kg)

Sertralina

0.00

-

Escitalopram

+0.41

[0.31 a 0.52]

Paroxetina

+0.37

[0.20 a 0.54]

Duloxetina

+0.34

[0.22 a 0.44]

Venlafaxina

+0.17

[0.03 a 0.31]

Citalopram

+0.12

[0.02 a 0.23]

Fluoxetina

-0.07

[-0.19 a 0.04]

Bupropiona

-0.22

[-0.33 a -0.12]

Os resultados mostraram diferenças significativas no ganho de peso após seis meses de uso:


  • Escitalopram e Paroxetina foram associados a um aumento mais acentuado no peso, seguidos por Duloxetina e Venlafaxina, embora em menor escala.

  • Citalopram também resultou em ganho de peso, porém mais modesto.

  • Fluoxetina apresentou um efeito neutro em relação ao ganho de peso.

  • Notavelmente, Bupropiona foi associada a uma redução no peso, sendo 15-20% menos propensa a causar ganho de peso clinicamente significativo.


Adicionalmente, o estudo destacou que o escitalopram, paroxetina e duloxetina estiveram associados a um risco 10% a 15% maior de ganho de pelo menos 5% do peso corporal inicial. Em contraste, a bupropiona mostrou uma redução de 15% nesse risco.


Reflexões da Prática Clínica


Na minha prática como professor e clínico em psicofarmacologia, frequentemente discuto com pacientes e colegas sobre os desafios de gerenciar o ganho de peso durante o tratamento com antidepressivos. Este estudo nos fornece dados valiosos que podem orientar essas discussões e ajudar na tomada de decisões informadas.


Por exemplo, a bupropiona mostrou consistentemente o menor ganho de peso, sendo até associada a uma perda de peso em alguns casos. Isso é particularmente relevante para pacientes que já estão preocupados com o peso ou que têm condições comórbidas como obesidade ou diabetes.


Por outro lado, medicamentos como escitalopram e paroxetina foram associados a um ganho de peso mais significativo. Estes achados sugerem que, para alguns pacientes, pode ser benéfico considerar alternativas que minimizem este efeito colateral.


Adesão ao Tratamento


Outro aspecto importante abordado no estudo foi a adesão ao tratamento, que variou significativamente entre os diferentes antidepressivos. A Tabela 2 resume a taxa de adesão de seis meses para cada medicamento.


Tabela 2 - Taxa de adesão de seis meses para cada medicamento.

Antidepressivo

Adesão de 6 Meses (%)

Duloxetina

28%

Venlafaxina

30%

Escitalopram

32%

Paroxetina

35%

Citalopram

38%

Sertralina

39%

Fluoxetina

40%

Bupropiona

41%

A baixa adesão, especialmente em medicamentos como duloxetina e venlafaxina, destaca a necessidade de monitorar e apoiar os pacientes no seguimento do tratamento. Adesão é crucial para a eficácia do tratamento antidepressivo, e a má adesão pode comprometer os resultados terapêuticos.


Pacientes e seus médicos dispõem de várias opções ao escolher um antidepressivo para iniciar o tratamento. Este estudo fornece dados práticos sobre o ganho de peso esperado com alguns dos antidepressivos mais comuns. O ganho de peso é um efeito colateral significativo que frequentemente leva os pacientes a interromperem o uso dos medicamentos. No entanto, alguns antidepressivos, como a bupropiona, estão associados a um menor ganho de peso em comparação com outros, o que pode resultar em melhor adesão ao tratamento.


O estudo enfatiza a importância de uma comunicação eficaz entre equipe de saúde e pacientes ao decidir sobre tratamentos antidepressivos. É crucial considerar tanto a eficácia do medicamento quanto seus efeitos colaterais, como o potencial de ganho de peso, ao fazer uma escolha para o tratamento.


Conclusão


O ganho de peso é um efeito colateral significativo dos antidepressivos que pode influenciar a adesão ao tratamento e a qualidade de vida dos pacientes. Este estudo recente fornece evidências práticas que podem ajudar clínicos e pacientes a fazerem escolhas mais assertivas sobre o tratamento com antidepressivos.


Ao iniciar um tratamento, é fundamental considerar não apenas a eficácia do medicamento, mas também seus efeitos colaterais, incluindo o potencial de ganho de peso. A comunicação aberta entre clínico e paciente é essencial para adaptar o tratamento às necessidades individuais e maximizar os benefícios terapêuticos.



Referências


 

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