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Foto do escritorProf. João Victor Laureano

Benzodiazepínicos - Mecanismo de ação e utilização clínica


Os benzodiazepínicos são uma classe de medicamentos amplamente prescritos devido às suas propriedades ansiolíticas, sedativas, hipnóticas, anticonvulsivantes e relaxantes musculares. Utilizados principalmente no tratamento de distúrbios de ansiedade e insônia, esses fármacos têm um papel significativo na prática médica. Neste artigo, exploramos os usos, mecanismo de ação, indicações, representantes comuns, efeitos colaterais e cuidados necessários ao utilizar benzodiazepínicos.



Mecanismo de Ação dos benzodiazepínicos


Os benzodiazepínicos (BZDs) produzem seus efeitos aumentando a ação do neurotransmissor GABA nos receptores GABA-A. Cada receptor GABA-A possui um único local de ligação para os BZDs. Quando o fármaco se liga a esse local, causa uma mudança conformacional (uma alteração na forma do receptor), que facilita a ligação do GABA. Isso permite que íons cloreto fluam para dentro da célula, resultando na hiperpolarização da membrana celular.


A hiperpolarização aumenta o limiar de energia necessário para a ativação dos neurônios, tornando-os menos propensos a disparar. Este é o principal motivo pelo qual os BZDs têm um efeito calmante. Embora todos os BZDs operem através deste mecanismo compartilhado, os efeitos fisiológicos podem variar em intensidade e duração devido a vários fatores, como diferenças na farmacocinética e farmacodinâmica de cada medicamento.

Mecanismo de Ação dos Benzodiazepínicos
WHALEN, K.; FINKEL, R.; PANAVELIL, T. A. Farmacologia ilustrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.

Lipofilicidade


Os BZDs são todos lipofílicos até certo ponto, o que permite que sejam prontamente distribuídos no cérebro e no sistema nervoso central (SNC). Quanto mais lipofílico for o medicamento, mais rápido será o início de ação; como o alprazolam e o diazepam são os mais lipofílicos, são os que começam a fazer efeito mais rapidamente. 


Metabolismo 


Cada BZD é metabolizado no fígado. Para a maioria dos BZDs, o processo começa com a oxidação pelo citocromo P450 (principalmente CYP3A4), seguida por uma etapa de conjugação conhecida como glicuronidação. O metabólito glicuronídeo resultante é então excretado na urina. O período de tempo que um medicamento permanece no corpo depende, portanto, do fígado e dos rins, e a duração da ação pode ser prolongada no caso de doenças hepáticas e renais (mais sobre isso abaixo). Além disso, alguns BZDs possuem metabólitos ativos que prolongam o efeito clínico. 


Meia-vida


Os BZDs variam amplamente em termos de meia-vida, de algumas horas (midazolam) a alguns dias (diazepam). Medicamentos com meias-vidas mais curtas são mais reforçadores e associados à ansiedade de rebote entre as doses. Eles também tendem a ser mais difíceis de interromper, especialmente no final da redução gradual do medicamento. Dos BZDs comumente prescritos, o alprazolam tem a meia-vida mais curta e, portanto, pode ser o mais reforçador e difícil de diminuir gradualmente.

Indicações


Os benzodiazepínicos são indicados para uma variedade de condições, incluindo:


  • Distúrbios de Ansiedade: Redução dos sintomas de ansiedade generalizada, ataques de pânico e transtorno de ansiedade social.

  • Insônia: Ajuda no tratamento de dificuldades para iniciar ou manter o sono.

  • Convulsões e Epilepsia: Utilizados no controle e prevenção de crises convulsivas.

  • Espasmos Musculares: Proporcionam alívio em condições associadas a espasmos musculares.

  • Síndrome de Abstinência Alcoólica: Aliviam os sintomas de abstinência em pacientes com dependência de álcool.


Representantes Comuns e Nomes de Marcas


Existem vários benzodiazepínicos no mercado, cada um com diferentes potências e durações de ação. Alguns dos mais conhecidos incluem:


  • Diazepam: Conhecido comercialmente como Valium.

  • Lorazepam: Vendido como Ativan.

  • Clonazepam: Comercializado como Rivotril.

  • Alprazolam: Conhecido como Xanax.

  • Midazolam: Vendido sob a marca Dormicum.

  • Temazepam: Conhecido como Restoril.


Efeitos Colaterais


Embora os benzodiazepínicos sejam eficazes, eles não estão isentos de efeitos colaterais. Os mais comuns incluem:


  • Sonolência e Sedação: Pode afetar a coordenação motora e a capacidade de operar máquinas ou dirigir.

  • Dependência e Tolerância: O uso prolongado pode levar à dependência física e psicológica.

  • Síndrome de Abstinência: Sintomas como insônia, ansiedade e irritabilidade podem ocorrer se o medicamento for interrompido abruptamente.

  • Déficits Cognitivos: Pode causar dificuldades de concentração e memória.

  • Efeitos Paradoxais: Em alguns casos, pode causar aumento da ansiedade, agressividade ou comportamento impulsivo.


Cuidados e Considerações


Ao utilizar benzodiazepínicos, é essencial seguir algumas precauções:


  • Uso de Curto Prazo: Devem ser utilizados pelo menor tempo possível para minimizar o risco de dependência.

  • Supervisão Médica: Sempre tomar sob orientação e supervisão de um profissional de saúde.

  • Interrupção Gradual: A retirada do medicamento deve ser feita de forma gradual para evitar sintomas de abstinência.

  • Interações Medicamentosas: Informar ao médico sobre todos os medicamentos em uso, pois benzodiazepínicos podem interagir com outros fármacos.

  • Evitar Álcool: O consumo de álcool pode potencializar os efeitos sedativos e depressivos dos benzodiazepínicos, aumentando o risco de efeitos adversos.


Conclusão


Os benzodiazepínicos desempenham um papel crucial no tratamento de várias condições médicas, oferecendo alívio significativo dos sintomas. No entanto, devido aos riscos associados ao uso prolongado e à dependência, é fundamental que seu uso seja cuidadosamente monitorado por profissionais de saúde. A compreensão dos mecanismos de ação, indicações, efeitos colaterais e cuidados é essencial para o uso seguro e eficaz desses medicamentos.





Referências


Stahl S. Psicofarmacologia - Bases Neurocientíficas e Aplicações Práticas. 4ª ed. São Paulo: Medsi; 2014.


WHALEN, K.; FINKEL, R.; PANAVELIL, T. A. Farmacologia ilustrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.


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