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Cuidado farmacêutico e a terapia CAR-T cell: revolução científica, desafios e suporte ao paciente


Reprodução: TV Brasil


O que é a terapia CAR-T cell?


A terapia CAR-T cell, termo originado do inglês Chimeric Antigen Receptor T cell, se trata da abordagem que modifica geneticamente as células T do próprio paciente para que reconheçam e destruam células tumorais específicas. Consiste em uma tecnologia altamente complexa, de alto custo e que representa uma alternativa muito esperada para os cânceres recidivados e refratários. Os principais projetos de desenvolvimento, ensaios clínicos e aprovações pelas agências regulatórias estão relacionados à área da Hematologia, contemplando indicações como Leucemias, Linfomas e Mieloma Múltiplo. Dessa forma, a terapia CAR-T cell se fortalece com o seu potencial transformador no cenário do tratamento oncológico e mostra resultados promissores.



Como funciona a Terapia CAR-T cell?


A terapia CAR-T cell segue um processo em cinco etapas principais que garantem a qualidade, segurança e eficácia do processo. Inicialmente, ocorre a aférese ou leucaférese, processo que extrai as células T diretamente do paciente. Em seguida, essas células passam por modificação genética em laboratório para expressarem o receptor quimérico CAR, que é projetado para identificar e se ligar a antígenos específicos na superfície das células tumorais. Após essa modificação, as células são estimuladas para expansão celular, em larga escala, amplificando os mecanismos imunes. Depois da expansão, ocorre a infusão das células CAR T no paciente, que atuarão de forma direcionada às células cancerígenas. A última etapa é o monitoramento pós-infusão, primordial para acompanhar a resposta do paciente e a possível ocorrência de efeitos adversos. Não menos importante, é uma etapa em que o farmacêutico pode atuar com o Cuidado Farmacêutico de modo a contribuir com o desfecho do tratamento.


Bateu a curiosidade? Ouça o que a farmacêutica especialista Deborah Melo, e professora da pós-graduação de Farmácia Oncológica da Propósito Cursos, têm a dizer sobre essas etapas:






Quais são os tipos de CAR-T cell aprovados?


Vários tipos de CAR-T cell foram desenvolvidos, sendo os principais direcionados para os antígenos BCMA e CD19. O BCMA é um marcador específico das células do Mieloma Múltiplo, o que permite à terapia CAR-T anti-BCMA atuar de forma direcionada a essas células, mesmo em pacientes com a doença em estágio avançado e refratário. Exemplos incluem os tratamentos com ciltacabtagene autoleucel e idecabtagene vicleucel. Já o CD19 é um marcador em doenças de células B, principalmente os linfomas e leucemias linfoblásticas. São exemplos de tratamentos CAR-T anti-CD19: axicabtagene ciloleucel, brexucabtagene autoleucel e tisagenlecleucel.


Quais os eventos adversos da terapia CAR-T cell são mais frequentes?


Apesar do seu lado revolucionário, a terapia de CAR-T cell pode causar eventos adversos significativos, especialmente após a infusão das células modificadas no paciente. Os dois eventos mais discutidos e que, em termos de temporalidade, são mais precoces são: a Síndrome de Liberação de Citocinas (SLC) e a Síndrome Neurológica Associada a Células Efetoras Imunes (ICANS). A SLC é uma resposta inflamatória aguda caracterizada por febre alta, hipotensão e dificuldade respiratória, podendo evoluir para disfunção multiorgânica em casos graves. Ela ocorre devido à liberação intensa de citocinas pelo organismo em resposta à terapia e exige monitoramento cuidadoso. Já a ICANS, por sua vez, afeta o sistema nervoso central e se manifesta principalmente com sintomas como confusão mental, convulsões e, em casos graves, edema cerebral. Assim como indicado para SLC, esse efeito neurológico requer vigilância contínua. Os dois eventos requerem uma pronta resposta da equipe assistente!



Monitoramento a longo prazo após infusão de CAR-T cell


Além dos efeitos imediatos, pacientes tratados com CAR-T cell precisam de acompanhamento contínuo para evitar complicações tardias, como infecções e reativação viral. As infecções, incluindo as causadas por Pneumocystis, citomegalovírus e Epstein-Barr, podem ocorrer devido ao comprometimento imunológico pós-terapia, especialmente em pacientes com hipogamaglobulinemia – condição caracterizada por redução nos níveis de imunoglobulinas no sangue. Para reduzir esses riscos, a profilaxia antimicrobiana e, em alguns casos, a administração de imunoglobulina se faz necessária. Dessa forma, o monitoramento detalhado também inclui a vigilância e acompanhamento de sinais precoces de infecção e intervenção rápida, quando necessária.


Qual a contribuição do profissional farmacêutico no tratamento com CAR-T cell?


O profissional farmacêutico possui competências que perpassam por todas as etapas da terapia de CAR-T cell, contudo, destaca-se a função clínica, a qual exerce o suporte ao paciente e sua família, considerando o monitoramento de eventos adversos até às ações educativas, tão necessárias para o restabelecimento e manutenção da qualidade de vida. O paciente e sua rede de apoio deve ser constantemente orientado sobre os sinais de alerta, profilaxias e cuidados domiciliares que são essenciais para reduzir complicações pós-tratamento. O farmacêutico atua, portanto, não só no controle de toxicidades e prevenção de efeitos adversos, mas também no suporte integral que fortalece a experiência e segurança do paciente em todo o processo da terapia CAR-T cell.


Conclusão


A terapia CAR-T cell está revolucionando o cenário do tratamento antineoplásico, oferecendo novas alternativas para pacientes com doenças refratárias a tratamentos convencionais. Essa inovação, porém, traz desafios significativos. A terapia CAR-T cell destaca a importância de uma colaboração multidisciplinar para o sucesso do tratamento, a fim de avaliar, ajustar e responder rapidamente às necessidades do paciente, desde a primeira etapa até o monitoramento de longo prazo. Nesse contexto, a contribuição do farmacêutico é essencial para garantir um tratamento de qualidade, seguro e eficaz.



REFERÊNCIAS 


LEE, D. W. et al. Current concepts in the diagnosis and management of cytokine release syndrome. Blood, v. 124, n. 2, p. 188-195, 10 jul. 2014. DOI: 10.1182/blood-2014-05-552729. Erratum in: Blood, v. 126, n. 8, p. 1048, 20 ago. 2015; v. 128, n. 11, p. 1533, 15 set. 2016. PMID: 24876563; PMCID: PMC4093680.


DELFORGE, M. et al. Health-related quality of life in patients with triple-class exposed relapsed and refractory multiple myeloma treated with idecabtagene vicleucel or standard regimens: patient-reported outcomes from the phase 3, randomised, open-label KarMMa-3 clinical trial. The Lancet. Haematology, v. 11, n. 3, p. e216–e227, 2024. DOI: 10.1016/S2352-3026(24)00005-X.


MARTIN, T.; KRISHNAN, A.; YONG, K. et al. Comparative effectiveness of ciltacabtagene autoleucel in CARTITUDE-1 versus physician's choice of therapy in the Flatiron Health multiple myeloma cohort registry for the treatment of patients with relapsed or refractory multiple myeloma. EJHaem, v. 3, n. 1, p. 97-108, 2022.



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