O mês de dezembro é marcado pela campanha Dezembro Vermelho, uma iniciativa voltada para a conscientização sobre a prevenção, diagnóstico e tratamento do HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). A campanha reforça a importância de enfrentar o estigma e garantir acesso a cuidados de saúde integrados, especialmente em populações vulneráveis. No contexto oncológico, essa reflexão ganha ainda mais relevância, pois pacientes vivendo com HIV que desenvolvem câncer, e vice-versa, enfrentam desafios únicos no manejo terapêutico e na continuidade do cuidado, exigindo uma abordagem multidisciplinar e integrada. De forma específica, o farmacêutico desempenha funções essenciais na promoção de terapias seguras e eficazes, otimizando o cuidado em cenários em que a complexidade terapêutica é elevada devido à presença de comorbidades.
Como funciona a individualização terapêutica da pessoa vivendo com HIV e câncer?
A coexistência de HIV e câncer envolve o uso concomitante de antirretrovirais e agentes antineoplásicos, aumentando o risco de interações medicamentosas. Nesse cenário, o farmacêutico pode atuar no acompanhamento da farmacoterapia, avaliando potenciais reações adversas, auxiliando na otimização terapêutica e no ajuste de doses com base na função renal e hepática. Essa avaliação minuciosa contribui para minimizar eventos adversos e maximizar a eficácia dos tratamentos, bem como trazer mais qualidade de vida ao paciente. São exemplos que podem surgir no cotidiano farmacêutico:
Efavirenz x abemaciclibe: Indutores moderados do CYP3A, como efavirenz, podem diminuir a AUC ajustada da potência relativa do abemaciclibe mais seus metabólitos ativos (M2, M18 e M20) em 53%, 41% e 29%, respectivamente.
Ritonavir x ciclofosfamida: Os inibidores de protease, como ritonavir, podem aumentar o efeito adverso/tóxico da ciclofosfamida. Especificamente, as incidências de neutropenia, infecção e mucosite podem ser aumentadas.
Atazanavir x brentuximabe vedotina: Os inibidores do CYP3A4 (fortes) podem aumentar a concentração sérica de brentuximabe vedotina. Especificamente, as concentrações do componente ativo monometil auristatina E (MMAE) podem ser aumentadas
Adesão ao tratamento: como enfrentar barreiras complexas?
Pacientes vivendo com HIV enfrentam desafios significativos relacionados à adesão ao tratamento, como o estigma social, dificuldades financeiras e efeitos colaterais de medicamentos. Quando diagnosticados com câncer, essas barreiras se intensificam devido ao aumento na complexidade terapêutica, ao desgaste físico e emocional, e às possíveis interações medicamentosas entre antirretrovirais e agentes oncológicos. O farmacêutico desempenha um papel estratégico na criação de planos terapêuticos individualizados, com foco em minimizar eventos adversos e garantir a continuidade do tratamento. Além disso, ações de educação em saúde, como a explicação clara sobre os benefícios da terapia antirretroviral e oncológica, bem como estratégias para superar dificuldades logísticas, são fundamentais para engajar os pacientes e melhorar os desfechos clínicos.
Prescrição de PrEP e PEP: o farmacêutico na ampliação do alcance preventivo
No Brasil, a Resolução CFF nº 671/2019 legitima a atuação do farmacêutico na prescrição de profilaxia pré-exposição (PrEP) e pós-exposição (PEP) ao HIV, permitindo maior acesso a essas estratégias preventivas. Para exercer essa atividade, o farmacêutico deve estar capacitado e atuar em serviços de saúde habilitados, conforme as diretrizes do Ministério da Saúde. Essa possibilidade é particularmente relevante no contexto oncológico, onde pacientes imunossuprimidos apresentam maior vulnerabilidade a infecções. Além de avaliar o risco individual de exposição ao HIV, o farmacêutico pode educar pacientes e familiares sobre medidas preventivas e aderência ao regime prescrito. Essa ampliação das responsabilidades do farmacêutico fortalece a resposta à disseminação de aids, contribuindo para uma prevenção mais abrangente e ágil, especialmente em populações de alto risco.
Educação continuada e transformação da assistência
O desenvolvimento contínuo das competências farmacêuticas é essencial para lidar com a complexidade crescente do cuidado oncológico em pacientes com HIV. A participação em cursos e treinamentos sobre interações medicamentosas, terapia antirretroviral e manejo de eventos adversos capacita o farmacêutico a oferecer este suporte, reduzindo riscos e melhorando os desfechos terapêuticos. Essa qualificação também é fundamental para atuar em situações de alta complexidade, como no ajuste de esquemas terapêuticos que evitem interações potencialmente perigosas.
A colaboração efetiva entre farmacêuticos e outros profissionais de saúde garante que as necessidades individuais dos pacientes sejam abordadas com segurança e empatia. A educação contínua não apenas aprimora a prática farmacêutica, mas também reforça a confiança dos pacientes e da equipe multidisciplinar, promovendo um cuidado integrado e de alta qualidade.
Campanhas como o Dezembro Vermelho reforçam o compromisso de toda a sociedade na luta contra o HIV, promovendo conscientização e acessibilidade aos cuidados de saúde. A atuação farmacêutica nesse contexto transcende o ambiente clínico, contribuindo para um tratamento mais humanizado, seguro e eficaz, alinhado às necessidades únicas de cada paciente.
O cuidado ao paciente oncológico vivendo com HIV exige um olhar atento, multidisciplinar e altamente especializado. O farmacêutico, com sua expertise em farmacoterapia, desempenha uma papel essencial nesse contexto. Essa expansão de responsabilidades destaca a importância de investir continuamente na educação e capacitação do farmacêutico, garantindo um suporte mais qualificado e integrado.
Confira a sessão Update-se com o Dr. Samuel Cardoso de Deus, que abordou sobre o papel da prescrição farmacêutica na otimização da farmacoterapia em pacientes HIV👇
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