A vancomicina é um antibiótico glicopeptídeo de amplo espectro, utilizado principalmente para tratar infecções graves, como endocardite, pneumonia e infecções da pele e tecidos moles. No entanto, há uma particularidade importante no uso desse medicamento: enquanto a vancomicina intravenosa (IV) é amplamente empregada no tratamento de infecções sistêmicas, a vancomicina oral é indicada principalmente para o tratamento de infecções intestinais causadas por Clostridioides difficile (C. diff). Este uso específico levanta uma questão importante para os farmacêuticos: a vancomicina oral pode ser administrada de forma concomitante à intravenosa? E o que fazer quando a vancomicina oral não está disponível na forma farmacêutica comercial?
Quando Usar Vancomicina Oral e Intravenosa?
A vancomicina oral é fundamental no tratamento de infecções graves por C. diff, especialmente nas formas mais graves e fulminantes, pois ela atinge concentracões terapêuticas no cólon, onde a infecção ocorre. A administração intravenosa, por outro lado, não consegue alcançar concentrações adequadas no cólon, o que limita sua eficácia no tratamento de C. diff. Assim, embora a vancomicina intravenosa seja eficaz para tratar uma variedade de infecções sistêmicas, como endocardite e pneumonia, a vancomicina oral é essencial para o tratamento específico de infecções intestinais.
Um cenário comum é quando um paciente que já está em uso de vancomicina intravenosa para tratar uma infecção sistêmica desenvolve C. diff como complicação de um tratamento antibiótico. Nesse caso, a prescrição de vancomicina oral é indicada. No entanto, muitos farmacêuticos, especialmente os menos experientes, tendem a interpretar a prescrição de vancomicina oral como uma indicação para descontinuar a vancomicina intravenosa, o que pode ser um erro crítico. Ambas as formas de administração devem ser usadas simultaneamente, pois tratam infecções diferentes, e interromper a vancomicina intravenosa pode prejudicar o tratamento de infecções graves.
A Experiência do Farmacêutico na Prática
Na minha prática clínica, tenho observado com frequência que farmacêuticos questionam ou até barram o uso de vancomicina oral, especialmente em instituições onde não há uma formulação oral disponível e em que a vancomicina intravenosa é utilizada como alternativa. Esse tipo de erro ocorre devido à falta de familiaridade com a necessidade de usar ambas as formas de administração, o que pode resultar em falhas no tratamento de infecções graves.
É fundamental que farmacêuticos e clínicos recebam uma educação contínua para compreender o papel da vancomicina intravenosa e oral no tratamento de diferentes infecções. Novos clínicos, especialmente aqueles que estão iniciando na prática hospitalar, precisam ser orientados sobre o uso simultâneo de ambas as vias de administração, a fim de evitar descontinuações indevidas do antibiótico intravenoso. Além disso, os farmacêuticos devem ser vigilantes e estar preparados para identificar quando a prescrição de vancomicina oral não implica na suspensão da intravenosa, garantindo que o paciente receba o tratamento adequado para ambas as condições.
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Como Administrar Vancomicina Intravenosa Via Oral:
Em alguns casos, a vancomicina oral não está disponível na formulação comercial, e a formulação intravenosa pode ser usada como substituta. Nesses casos, é importante que o farmacêutico saiba como preparar corretamente a dose oral a partir da vancomicina intravenosa. A seguir, descrevo um processo prático de preparo:
Reconstituição da Solução:
Retire o pó de 500 mg de vancomicina para injeção do frasco e reconstitua com 10 mL de Água Estéril para Injeção. Isso resulta em uma solução de 50 mg/mL (500 mg em 10 mL).
Diluição para Administração Oral:
Para uma dose de 125 mg, retire 2,5 mL da solução reconstituída.
Adicione 30 mL de água potável à solução retirada. A mistura resultante deve ser administrada por via oral.
Estabilidade da Solução:
A solução reconstituída é estável por até 24 horas em temperatura ambiente. Cada frasco reconstituído pode ser utilizado dentro deste período para garantir a eficácia do tratamento.
A administração de vancomicina oral a partir de sua formulação intravenosa é uma alternativa eficiente quando a vancomicina oral não está disponível. Essa abordagem prática permite que os farmacêuticos e clínicos ofereçam o tratamento adequado, evitando atrasos no início do tratamento ou a interrupção inadequada da terapia.
Considerações Finais:
O uso simultâneo de vancomicina intravenosa e oral não deve ser visto como uma exceção, mas como uma prática necessária em certas situações clínicas, como no tratamento de C. diff em pacientes com infecções graves. O farmacêutico desempenha um papel essencial em garantir que a vancomicina seja administrada de forma eficaz, e a educação contínua é fundamental para evitar erros na gestão terapêutica. Ao seguir as orientações de preparo e administração, podemos assegurar que os pacientes recebam o tratamento necessário para sua recuperação, sem prejuízos decorrentes de falhas no uso correto dos antibióticos.
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REFERÊNCIAS
Fishbein, S. R. S., Hink, T., Reske, K. A., Cass, C., Struttmann, E., Iqbal, Z. H., Seiler, S., Kwon, J. H., Burnham, C. A., Dantas, G., & Dubberke, E. R. (2021). Randomized Controlled Trial of Oral Vancomycin Treatment in Clostridioides difficile-Colonized Patients. mSphere, 6(1), e00936-20. https://doi.org/10.1128/mSphere.00936-20
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